terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Marilyn Monroe: uma vida de atos. (Fantasia ou realidade?)




A vida de Marilyn Monroe é daquele tipo inacreditável. Vida que parece que foi escrita para ser um filme de cinema ou uma peça de teatro. Fantasia ou realidade? Os dois.
 “A verdade tem estrutura de ficção.”
Norma Jean nasceu como uma menina quase comum. Quase.  Nunca conheceu o pai, e, devido aos problemas psicológicos de sua mãe – que era constantemente internada – foi criada por amigos, vizinhos, e enfim, orfanatos. Sempre que se adaptava em um lugar, que começava a se apegar e a gostar das pessoas que constituíam a sua “família”, algo acontecia e fazia com que ela tivesse que se mudar. A princípio, foi sem escolha: sempre inconstante, insegura.
Gladys, sua mãe, quando a visitava, dizia: “Um dia você será uma estrela de cinema!” Gladys trabalhava, quando estava bem, na indústria cinematográfica.
Ainda bem jovem, com 17, teve a oportunidade de se casar. Era a chance de ter um lugar, uma família, um porto seguro. Norma não hesitou e se casou com um típico rapaz da classe média tradicional americana. Mas a união não durou muito… O marido viajava muito a trabalho e Norma ficava. E algo dentro dela a dizia que ela não era uma tradicional esposa americana. Que o seu papel não era o de ficar dentro de casa, esperando o marido voltar, cuidando das crianças, cozinhando… Algo nela se movimentava constantemente. Uma coisa dentro dela era por de mais dinâmica, possuía muita energia, e precisava usá-la. Queria, também, ter seu próprio dinheiro. Nunca conhecera a estabilidade e não sabia viver com ela.
Foi então que começou a trabalhar em uma fábrica fazendo um trabalho mecânico e braçal. Chamava a  atenção por onde ia, e, enquanto trabalhava começou a atrair a atenção dos colegas homens e a inveja das mulheres. Virou assunto. Usava roupas justas que acentuavam seus contornos perfeitos, seu traços muito sensuais e ingênuos ao mesmo tempo. Era isso que perturbava, que comovia os olhares de uma forma estranha. Era incomum. Sua pele reluzia e brilhava como uma estrela. Ela era diferente.
Foi quando um fotógrafo a viu trabalhando e a chamou para uma sessão de fotos. A partir desse momento não parou mais. Encontrou nas lentes o olhar onde podia revelar-se, entregar-se.  A lente da câmera fotográfica representava o olhar que lhe faltava, e o seu desejo era o de ser vista,  amada, ser admirada, ser desejada por esse olhar que não estava lá, mas que em algum momento estaria. Queria ser notada. Fotografando, tinha desenvoltura, era vulnerável e forte ao mesmo tempo. Simples e Complexa. Ria com vontade, vontade amedontradora de ser feliz em algum lugar, em algum tempo. Vontade de se divertir, de viver com prazer. Iniciou a fazer aulas de teatro pois queria evoluir em suas representações.
Seu marido não ficou nada contente com a nova profissão de sua esposa. Modelo, atriz?  Isso era coisa de mulher direita? Em um momento ela teve que escolher: ou a vida de esposa tradicional ou a vida profissional. Escolheu brilhar. Norma virou Marilyn. 


“Um dia você será uma estrela de cinema!” A voz de sua mãe – esperançosa,  enlouquecida – ecoava em algum lugar dentro e fora dela, ininterruptamente.
Na sua constante demanda de atenção e desejo teve diversos relacionamentos. Diretores de teatro, esportistas renomados, autores, politicos, cantores, desconhecidos. Queria ser amada.
Queria também, ser uma atriz de verdade. Ser reconhecida pelo seu trabalho, pela sua produção. Queria ser inteligente, culta. Lia Freud e outros pensadores. No entando, seu papel de sex symbol parecia estar inscrito nela. Era chamada para papéis vulgares; loira burra, secretária sedutora, amante. Ela tentava fugir, mas era isso que atraía com força.  
“Um dia você será uma estrela de cinema!”
No cinema, sua imagem reluzia e era fascinante para o público. Passou a receber milhares de cartas por semana. Todos pediam Marilyn. Produtores, diretores, não podiam negar;  tratava-se de um fenômeno.
Mas Marilyn era insegura. Demorava horas para entrar em cena pois achava que não daria conta. Chorava, gemia. Precisava que sua professora estivesse ao seu lado, dando dicas, aconselhando. Não sentia que era capaz, mas algo a fazia entrar em cena, mesmo depois de horas suspensas em puro terror e sofrimento. Algo a impulsionava, algo maior do que ela; essa mulherzinha enlouquecidamente bonita e frágil.
Ficava cada vez mais conhecida e desejada pelas massas. Passou a fazer uso abusivo de álcool, remédios, drogas. Sua casa era toda branca, sem móveis, livros espalhados pelo chão e um único objeto que realmente se sobressaía; um piano branco que havia sido de sua mãe. Sonhava em salvar sua mãe da loucura algum dia, trazer ela para morar consigo.
Seu estado psíquico era cada vez mais abalado. Conseguiu se tornar uma atriz famosa, mas o título de sex symbol era uma verdade que a incomodava. Queria ser mais, ir além. Mas era isso, e não conseguia fugir. Casou-se com Arthur Miller, intelectual politizado, que se separou da mulher para ficar com ela.  Em pouco tempo separaram-se.


Queria engravidar, nunca conseguiu completar uma gestação.
Tornou-se dependente de seu psicanalista.
Nada nunca era o suficiente. Marilyn era sua própria tentação, seu próprio enigma, seu próprio pecado.
Nunca se sentira realmente amada por um homem. Não tinha um pai, e, nos outros homens, buscava preencher essa falta incomensurável. Repetidas tentativas frustradas de fazer existir o que não existe. Ela nunca se conformou. 
“Um dia você será uma estrela de cinema!”
No desejo de realizar o desejo de sua mãe, Marilyn se tornou uma das atrizes mais conhecidas da história do cinema. Por sua beleza? Sensualidade? História? Acaso? Isso tudo e nada disso. Os fatores que determinam um acontecimento são muitas vezes indetermináveis. 
Brilhou de uma forma esquisita, intensa, e dolorosa. Morreu jovem, não se sabe se por suicídio ou assassinato. Sua chama, de tão forte e sem limites, consumiu a sua própria vida, levando-a a estrelar na morte rumo a imperecibilidade dos símbolos.
“Um dia você será uma estrela de cinema!”
Algumas palavras determinam uma mulher, uma história, um destino; a vida e a morte. 
Algumas palavras são arte.
Já prestou atenção nas suas palavras?